Journal De Malte - Deixar uma 'marca', o desafio da primeira treinadora no basquete masculino brasileiro

Deixar uma 'marca', o desafio da primeira treinadora no basquete masculino brasileiro
Deixar uma 'marca', o desafio da primeira treinadora no basquete masculino brasileiro / foto: Thiago GADELHA - AFP

Deixar uma 'marca', o desafio da primeira treinadora no basquete masculino brasileiro

Inspirada na americana Becky Hammon, a primeira treinadora da NBA, a sérvio-australiana Jelena Todorovic, espera deixar sua "marca" como a primeira mulher a comandar uma equipe masculina no basquete brasileiro e uma das pioneiras na América do Sul.

Tamanho do texto:

"Ataca! Ataca!", ordena Todorovic a seus jogadores durante um treino do Fortaleza, antes de conversar com a AFP. Sua estreia será no dia 18 de outubro, quando começa a temporada do NBB.

O time cearense iniciou uma reconstrução depois de uma difícil temporada 2024/2025, na qual ocupou a última colocação ao lado do Botafogo. O Franca foi o campeão nas últimas quatro edições da competição.

"É uma grande honra e uma responsabilidade(...). Tenho ciência do peso que carrego, abrir portas para outras mulheres, e isso me motiva todos os dias", diz a treinadora de 31 anos.

"Não quero ser só a primeira mulher. Quero ser alguém que deixe uma marca, quero que meus resultados falem por si só", acrescenta.

Todorovic jogou no Estrela Vermelha, da Sérvia, mas antes de completar 20 anos começou a forjar sua carreira como treinadora.

Continuou na Austrália e depois integrou as comissões técnicas de seleções como Sérvia, Espanha e Grécia, onde trabalhou com jogadores do nível do ala-pivô Giannis Antetokounmpo, duas vezes MVP da NBA.

- "Se eu inspirar uma menina, meu trabalho está feito" -

Embora estejam ganhando terreno no basquete, ainda é raro ver mulheres comandando equipes masculinas.

Assistente do lendário Gregg Popovich no San Antonio Spurs (2014-2021), Becky Hammon foi a primeira mulher a trabalhar em período integral na comissão técnica de um time da NBA e, em 30 de dezembro de 2020, se tornou a primeira e única a ser treinadora principal.

Popovich foi expulso de um jogo entre Spurs e Los Angeles Lakers, em San Antonio, e ela assumiu o comando.

"Becky Hammon foi uma das minhas primeiras e maiores inspirações. Quando eu era pequena, não tinha muitas pessoas em quem me espelhar, alguém que se parecesse comigo, então tê-la lá como pioneira foi super inspirador e me deu uma motivação extra para perseguir meus sonhos", conta Todorovic.

Jenny Boucek, Teresa Weatherspoon e Candice Dupree, entre outras mulheres, foram assistentes na NBA, mas nenhuma alcançou o feito de Hammon.

A própria Todorovic teve uma breve passagem como assistente pela liga americana de basquete, no Orlando Magic, durante o lockout em 2011.

Agora no Brasil, ela pode ser inspiração.

"É mais fácil quando você tem alguém que você conhece e se parece com você e então você pode dizer: 'é possível'", ressalta. "Se eu inspirar uma menina a seguir meus passos, meu trabalho está feito".

Na Argentina, potência do basquete sul-americano ao lado do Brasil, Laura Cors foi a primeira mulher a comandar um time masculino, o Bahía Blanca, em 2020, embora tenha dividido a função com os treinadores Martín Luis e Augusto Meneses.

- Uma religião -

"A primeira coisa que quero trazer é a minha paixão pelo basquete. Venho de uma cultura de basquete, jogo basquete desde que me entendo por gente (...) Na Sérvia, é uma religião", diz Todorovic.

A grande religião do Brasil é o futebol, mas o país já foi duas vezes campeão mundial de basquete (1959 e 1963) e é o maior vencedor do Campeonato Sul-Americano, com 18 títulos.

"Estou aqui representando a mim mesma, minha família, meu país, e quero que eles se sintam orgulhosos. Quero criar algo que dure muito tempo, uma grande cultura do basquete aqui em Fortaleza", ressalta. "Eu amo estar aqui".

M.Portelli--JdM